Maria José Rijo
Não sou princípio - Nem fim! -Sou um ponto no caminho- Daquela linha partida- Que vinha de Deus para mim!
Meus sonhos
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Minha Gente: - computadores "do contra" e obrigações indeclináveis têm impossibilitado a nossa presença regular neste nosso ponto de encontro.
Como não vos posso deixar aqui um braçado de flores destas que, nesta época do ano,fazem do Alentejo uma das mais grandiosas paletas de cor que se possam imaginar - deixo-vos mais um dos meus apontamentos -
Os reis, ofereceram oiro, insenso e mirra , os pastores lã dos seus rebanhos - eu, trago-vos palavras - é quanto tenho.
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Meus sonhos
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Meus sonhos,
sou eu, por acontecer
no tempo vivido,
na luta por ser
Meus sonhos, são pássaros
que mal ganham asas
se soltam dos ninhos
e, mesmo aos baldões
desbravam os ares
procuram caminhos
Se fora a Vida
a ter-me sonhado
por breve que fora
o instante vivido
já não era sonho
tinha acontecido.
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Um abraço
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Maria José Rijo
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24 de Abril
Estamos em Abril, é dia 24, hoje, minha querida Mãe festejaria o seu aniversário.
Gostaria de ser capaz de dizer ou fazer qualquer coisa especial para marcar esta data.
Não sei. Não posso.Só me ocorrem lembranças.
Tudo quanto dissesse, não teria a força o enraizamento na Vida que a própria palavra - Mãe - já exprime.
Minha Mãe teve uma vida longa, partiu à beira de fazer 104 anos. Poderiam ser mais ou menos, isso não importa. As Mães são eternas nas vids dos filhos, mesmo quando eles, se distraem e se esquecem disso.
Quando minha Avó festejou cem anos, minha Mãe tinha uma idade próxima da que eu tenho agora; pensei então que os meus amigos que me visitam, e já são da casa, gostariam de olhar comigo, hoje , uma sua fotografia desse tempo para identificarem de onde vem a saudade que pontua os meus passos, e conduz e segura a minha mão quando, como agora, venho em procura da vossa companhia
Um abraço
Maria José Rijo
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Queridos - Todos!
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Queridos - Todos!
pudesse eu ficar aqui à conversa com todos vós que , feliz o faria.
Porém já tanto me atrasei que resolvi contar para todos uma pequena história, reminiscência da minha infância, que, se bem que a sua lembrança me comova, por certo, vos fará sorrir a todos, como ainda agora acontece comigo, e, explicará a situação.
Vale a pena, até porque, é como uma mostra comparativa dos tempos passados e presentes.
Minhas queridas e velhas tias, eram, como então se dizia senhoras prendadas e de bons princípios.
Eram referenciadas pela sua generosidade e educação e, uma delas, até, por sua beleza e elegância.
Ora, quando recentemente, uma das minhas pequenas e lindas sobrinhas bisnetas, piedosamente me mimou dizendo que devia ser "bué de chato" eu estar adoentada, de cama com febre, pensei divertida que minhas tias, qualquer delas, em idênticas circunstâncias, confessaria contrita:
Sabe! - Uma das pequenas festejou o seu aniversário e eu devo ter-me excedido nos doces ou fiz qualquer misturada que me originou um tremendo embaraço gástrico com todas as naturais consequências. Nesta altura do discurso já deveria ter o rosto afogueado e, pudicamente olharia qualquer prega do vestido ou do tapete do chão para disfarçar o rubor.
Realmente, os tempos mudaram; a tal ponto, que eu que tenho agora a idade que elas então teriam, quase me apetecia confessar que se é "bué de chato ser cota" , calcule-se como tudo se agrava quando se tem que conviver com o tal "embaraço gástrico"!
Estou e serei sempre grata pela fidelidade com que os meus Amigos e Família do blog vêm a esta casa que lhes pertence.
Sigo com a maior atenção tudo quanto me contam.
Alegro-me e sofro convosco e, quando o tempo para mais não dá, faço o de sempre - peço a Deus por todos nós
Um abraço grande e grato
Maria José Rijo
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Os Lusiadas que somos
Á Lá Minute
Jornal Linhas de Elvas
Nº 1.781 – 12 de Abril de 1985
OS Lusíadas que somos
Repetida, violenta, impertinente soa a campainha!
Irritada, abro a porta de rompante pronta para a agressão verbal.
No patamar, iluminado só pela luz que se escapa do interior da casa, e os apanha em cheio – brilham alguns pares de olhos.
Um momento breve esgueira-se, até que se identifique a situação. Sorrisos rasgados desarmam-me aumentando o branco que reflecte a luz.
-- Quem são? – O que querem? – De onde vêm?
Surge como resposta a ponta da meada.
De um bairro, lá na outra ponta da cidade, onde vivem, saiem à noitinha as crianças de pele escura, cabelinho crespo, batendo às portas para pedir comida.
-- Só comida! - - (ou roupas) – comida de preferência!
Uma criança é sempre uma criança – tenha a cor que tiver.
Uma criança de pele clara, que pede, é um dos nossos a quem não demos ainda o lugar e as condições a que tem direito.
-- Mas… e estes meninos e meninas de cor, cabelinhos crespos, bocas carnudas, dentinhos luzindo?! – de quem são?
Não serão (se possível) ainda mais nossos? – “Nossos” por serem crianças, “nossos” porque seus pais vieram lá de longe, lá do outro hemisfério, porque escolheram ser confiadamente portugueses?
(quadro - ciganos - óleo de Maria José Rijo)
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“Nossos” porque todos, sem excepção, somos responsáveis pelo cumprimento de cada um dos deveres que nos corresponde – por cada um dos direitos da criança?
Olho estes meninos negros que pedem às nossas portas – encaro-os – e, dentro de mim atropelam-se versos de Camões – Versos de orgulho Lusíada – Versos de “Os Lusíadas” – raiz histórica de: - os Lusíadas que somos…
"Na quarta parte nova os campos ara,
E se mais mundo houvera lá chegara!"
Canto de epopeia – epopeia de uma raça – a nossa!
“Que da ocidental praia Lusitana
Por mares de nunca antes navegados…”
Foi por esses mares – já sabidos agora palmo a palmo
- Sob o céu onde brilham ainda as constelações que guiaram aqueles que :
“entre gente remota edificaram
Novo reino que tanto sublimaram”,
Que vieram até nós – até:
“… O reino Lusitano
Onde a terra se acaba e o mar começa”
Dando à costa, como despojos, os restos vivos de um império desmoronado. Vieram – crentes em nós – os donos verdadeiros desse império – que não lhes foi restituído.
“Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta”
Diz o genial Camões com um frémito de orgulho por ser português.
É de nós que Camões fala – da nossa raça.
-- Onde está esse valor?
-- Onde está que “não se alevanta” e consente que “essa gente remota” viva a mendigar às nossas portas como nós fazemos mundo fora – até já ao Japão…
São também de Camões e de “Os Lusíadas” estes versos que merecem contar os lusíadas que somos,
“A pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
De hua austera, apagada e vil tristeza”
Maria José Rijo
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Giro Flé Flé Flá
Á Lá Minute
Jornal Linhas de Elvas
Nº 1.800 – 23 de Agosto de 1985
Giro Flé flé flá
“Da minha Janela à tua
Há lixo que chega e sobra
-- onde andam os varredores
Que não põem mão à obra?”
Faço esta brincadeira, a sós comigo, quando olho as janelas do Senhor Presidente da Câmara, que da minha casa avisto.
Outro dia, porém, pus-me a pensar:
Quando o largo está limpo – o que já tem acontecido – não deu para versejar…
Também não ocorreram glosas, nem li comentários de outrem, sobre a fartura de água de que dispomos já há dois anos e cuja carência, era costume deplorar, acusando a inércia da Câmara.
Também não me ocorreu indagar cuidadosamente com que critério irão ser distribuídas as casas dos bairros novos – e por quem – ou, a quem cabe, a inteira responsabilidade do atraso na sua atribuição a tanta gente inscrita, àvida dum mínimo de conforto…
Tem-me ocorrido, isso sim, e muitas vezes pensar – a sós comigo: - coisas da Câmara!
E… será só? Ao certo não sei – mas… Quando penso nos projectos que certo dia escutei da boca do actual Presidente, no começo do seu mandato, e os comparo com a obra realizada, não posso deixar de me interrogar:
-- Será só a Câmara a responsável pelo que não se fez?
--Teria sido possível ao Município navegar contra a maré?
A maré, de certa maneira, depende da lua que a determina…
Sendo embora a lua uma realidade distante, toda sombras, quartos, crescentes e minguantes, é na maré que se pesca, é na maré que se voga, se parte e volta ou dá à costa…
O lixo que os cantoneiros não limpam a horas, é também lixo nosso – mal acomodado – etc… etc… por aí fora !
Não gostaria de usar nos meus juízos a inocência com que alguém, certa manhã, colhia flores na placa ajardinada frente ao Palácio da Justiça – como, se ali fosse o Jardim da Celeste, giro-flé-flé-flá!
Não! Nem quero depois olhar para a placa “depenada” e dizer candidamente: - a culpa é do Presidente! – Continuando o meu caminho leve e feliz – giro-flé-flé-flá!
Não estou mandatada para acusar ou defender!
Estou consciente dos meus deveres como Munícipe e, como tal, quero aceitar a minha parte nos “custos”, se a tiver!
Maria José Rijo
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Lição da História
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O Aqueduto da Amoreira (mon. Nac.) é o mais imponente do país, depois do das Águas Livres, e talvez o mais elegante de todos. Foi construído de 1498 – 1622, à custa do povo de Elvas, pela finta denominada do Real de Agua, que nele dispensou mais de 200000 cruzados.
“ Várias gerações sucessivas – escreve Ramalho Ortigão – acarretaram para essa construção os materiais; e lentamente, pacientemente, foram colocando pedra sobre pedra, para que um dia a água chegasse a Elvas, e bebessem dela os netos dos netos daqueles que de tão longe principiaram recolhe-la e a canaliza-la. Uma tal empresa é a humilhação e a vergonha do nosso tempo, incapaz de pagar com igual carinho ao futuro aquilo que deve à previdência, aos sacrifícios e aos desvelos do passado.”
(In Guia de Portugal)
Em passadas de gigante
Nobre de traça e de idade
Vem da nascente p'ras fontes
dar de beber à cidade
Sabe bem em Dia de Anos, revisitar os lugares
que nos abrem caminhos
e convidam à meditação
Maria José Rijo
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Santa Páscoa
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Para todos os Visitantes, Amigos e Família de afecto deste blog com votos d uma Santa Páscoa, um daqueles apontamentos a que generosamente costumam chamar poemas.
Minha Vida!
Meu Amor!
Meu Amigo!
Como posso chamar meu
ao que guardar não posso?
Como posso?
- como posso dizer meu
se nem de mim eu sou!
Dizer que estive, ou fui, eu posso,
mas, estarei, serei, só porque sou - já não !
Não posso dizer meu
ao que não posso garantir a sorte!
Como posso dizer minha à Vida
que só me garante a morte?!
Meu Amigo!
Meu Amor!
Minha Vida!
Em mim vos guardo porque existo!
Nada é nosso!
Nada é meu!
Só este engano de quem diz - eu
Maria José Rijo
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Apostar na Esperança
Á Lá Minute Jornal
Linhas de Elvas
Nº1.777 – 15 de Março de 1985
Apostar na Esperança
A Câmara mandou ajardinar uma placa perto do Palácio da Justiça e do Jardim.
Foi há meses!
– Mas agora – já com plantas com flor e com relva pegadinha – está criada e bonita.
Ao lado, olhando aquela tão bem composta, está outra placa, quase igual, mas rapada e pobre como chão de caminho. Até as placas, podem ter sortes distintas, ao que parece!
Pode até ser, que a outra, a tal já está linda – tenha sido uma experiência pioneira.
Sei lá! – Talvez!
Fosse pelo que fosse – seja pelo que seja – um aceno de simpatia à Câmara, por aquele pedacinho de Primavera, que criou, ali, à beirinha da estrada – neste “Inverno do nosso descontentamento” e, também um aceno de apoio e aplauso pela “reincidência na esperança” – nessa aposta do repovoamento de árvores e arbustos!
Anda-se ao acaso por aqui, ali e acolá – algures por toda a cidade e são tantos, tantos os lugares – onde as marcas vazias falam de árvores que foram morrendo estropiadas – como cicatrizes de chagas sem remédio…
Anda-se ao acaso por aí e lá estão de novo árvores pequeninas, amparadas por frágeis tutores de cana, procurando conquistar o seu espaço de enraizar e crescer…
… Passei ao acaso, e vi, que onde umas e outras e muitas mais – tantas que já nem têm conta – tentaram a aventura de viver e não o conseguiram, voltam a estar tronquinhos tenros que se esforçam por sobreviver…
Pensei em crianças!
– Nas pequenas, de mãos dadas a alguém, já mais seguro de si, que as levasse pela primeira vez a iniciar a rota da independência: - a escola!
Pensei que talvez pudessem ser as crianças em grupos – “em bandos” – a ajudar a plantar, a cuidar as árvores, fossem elas, cidades, vilas ou aldeias, para que ganhassem desde o berço a noção exacta de como é “nossa a nossa terra” – de como é “sua”, até ao pormenor a terra de cada um de nós.
De como a imagem de asseio, ordem, correcção de costumes se reflecte e reflecte a imagem do nosso meio ambiente.
Talvez que “vacinados” pelo esclarecimento e pelo hábito de participar, desde a tenra idade – todas colaborassem espontaneamente nestes deveres cívicos que seriam então como uma “feição” de cada um de nós.
Talvez que então a vizinhança não fosse depenar as codornizes, de forma, a que o vento levasse as penas para o quintal do lado ou escamar o peixe debaixo das janelas de casa onde outros habitam…
Talvez deixasse até lançar, à rua, lá do alto do seu andar as águas sujos ou lixo de casa…
Talvez que cumprindo cada um a sua parte de responsabilidade para o bem geral pudesse cada qual usufruir o seu próprio quinhão de bem-estar com a alegria de saber que gozava de uma conquista que soubera merecer.
Maria José Rijo