Maria José Rijo
Não sou princípio - Nem fim! -Sou um ponto no caminho- Daquela linha partida- Que vinha de Deus para mim!
DIAS DE ISTO E DAQUILO
Á LÁ Minute
Jornal Linhas de Elvas
Nº 1961 – 21 de Outubro de 1988
DIAS DE ISTO E DAQUILO
Isto de ser feito de memória – é verdade!
Todos o somos. Somos a resultante da história da nossa vivência, como os povos o são também. Somos vitórias e derrotas, alegrias e tristezas, e partimos para cada dia com a capacidade de compreender, amar ou perdoar, que tivermos acumulado. Tal como os povos que se confrontam entre si, nós também o fazemos, e tal como os povos que entre si estabelecem acordos de diplomacia, amizade, respeito ou pacifico convívio, também nós o fazemos – não esquecendo, embora – quer como indivíduos ou como povos, diferenças ou semelhanças.
Só quem recorda, cumpre.
Só quem não esquece, tem palavra.
Quem perde a memória – perde a identidade.
Mesmo assim há, recortes que se limam pelo caminho porque deles nos soltamos na medida em que somando experiência, a cada momento, o nosso ponto de reflexão pode ser corrigido e ajustado.
Assim que, dei comigo a concordar com os dias mundiais de “isto” e de “aquilo”, depois de durante muito tempo, nem sequer ter pensado no assunto ou, até, de me ter parecido, levada na corrente, não ser necessário haver medidas em especial, fosse para o que fosse, assentava esta posição na lógica de que todos os dias são de tudo: -- vida e morte, graça e desgraça, guerra e paz – manhã e noite.
Porem, depois de reconsiderar, já não digo, no calendário litúrgico, com um Santo para cada dia – reconhece-se que não está errado o critério que tal determina. Pelo contrario! Estabelecer no tempo um momento certo para que, na medida do possível, todas as pessoas, simultaneamente façam convergir os seus cuidados sobre os problemas que a todos respeitam, é ordena-los em vista a soluções possíveis - atribuindo-lhe a dimensão que realmente têm.
Lembrei-me então de Fátima. Toda a gente pode rezar em casa, quando lhe calhe, lhe é necessário ou lhe apetece. No entanto, rezar em Fátima é diferente. É faze-lo no local escolhido para as orações. E onde toda a gente que lá vai – se despe de vaidades, artifícios e egoísmos e, com a humildade possível, se reconhece humano, fraco, falível, carente. Lá quase sempre a fé e a generosidade se curvam a par. Lá pede-se saúde, vida, paz, trabalho, amor e perdão. A Fátima, mesmo quem vai em carro de luxo, vai de joelhos e tão suplicante, como o romeiro pobre e descalço que empoeirado palmilha a pé o caminho, dirá e apenas: - MÃE !
Dentro deste espírito parece-me que os dias de “isto” ou de “aquilo” se tornam os “lugares” de convergência para “curtir”, à vez, aquela multiplicidade de problemas a que é preciso e urgente que a sociedade dê a resposta justa e certa.
Maria José Rijo
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FIM DE PROGRAMA
Jornal Linhas de Elvas
Nº 1.936 – 15 de Abril de 1988
A Lá Minute
FIM DE PROGRAMA
Acabou o programa de Joaquim Letria.
Faz falta – melhor – fazem falta, programas vivos, variados, bem pensados – como primam, por o ser, aqueles que Letria produz. Se é verdade que por vezes algumas situações nos surpreendem e até se tornam um tanto embaraçosas, outras vezes deixam-nos apontamentos que dão para pensar e repensar.
Foi assim com algumas das entrevistas que trazendo até ao nosso conhecimento pessoas e factos a elas ligados, enriqueceram o nosso quotidiano rotineiro!
Estou a lembrar-me de uma afirmação proferida por Lídia Jorge, que acaba de publicar um importante livro sobre a sua vivência em Africa, que disse mais ou menos isto:
“Há dezassete anos que trago comigo esta experiência e só agora ela ganhou a maturidade necessária para me ser possível trata-la”.
Realmente o tempo não “apaga” – (como se diz) o tempo – “arruma” – ou não – na nossa sensibilidade tudo quanto nos toca – enriquecendo a nossa vida de experiências, conhecimento, tolerância – ou não …
Penso que tudo quanto se vive de coração aberto e alma limpa, seja tristeza ou alegria, ajuda a temperar o carácter e a definir a personalidade.
Assim, cada qual, é, e sempre será – sem remissão – a resultante possível dos actos que praticou – das memórias que consigo guardar – e, a sua maneira de estar na vida e de julgar … de isso – dará testemunho iniludível.
Muitas vezes tenho pensado, e, até já talvez o tenha dito ou repetido que um dia, se Deus quiser, e eu for capaz de o fazer, hei-de falar profundamente do terramoto dos Açores.
Essa experiência, foi a “minha guerra” e nas guerras - em todas elas se há os aproveitadores das tragédias, os que prosperam colhendo lucros com as desgraças alheias – há também – aqueles que se despojam de tudo quanto lhes pertence, tudo sacrificam e tudo compartilham com os mais carentes.
O procedimento humano tem enraizamentos muito profundos e não é tarefa fácil compreender razões de bem e de mal, de tolerância ou rancor de amor e ódio.
Disse Maria Antonieta de França com piedade dos seus algozes: - “é na desgraça que a gente sente melhor quem é!”
É incontestável que pelo aproveitamento das circunstancias se mede a craveira moral dos indivíduos e, nestas lucubrações, quase me perdia do: “Já está”em que Letria com a bonomia do homem tranquilo ofereceu, como fecho, o seu auto-retrato, sorridente e crítico, como é apanágio da boa consciência de quem se sabe e aceita falível.
Assim, ele, que foi de rosto franco, autor assumido pôs ponto final no programa da forma mais inteligente possível – não deixando ninguém escondido por detrás de ninguém.
Colocou todos frente a frente – e, com a verdade nua –foi mostrando diversas formas e maneiras de reagir dos “apanhados”.
Esclareceu e identificou.
Foi Vida.
Maria José Rijo
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Este velho computador...

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Felicitações para os nossos queridos Amigos...
Neste dia de rosas, como minha Mãe
chamava a estes
dias de sol perfeitos de Outono, sabe bem vir dar
muitos beijinhos de Parabéns à pequenina Magé
pelo seu terceiro aniversário.
Que Deus lhe abra na vida caminhos de luz
são os votos da tia Ze e Paula
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APELO ÀS ORIGENS
Jornal Linhas de Elvas
Nº 1.976 – 3 de Fevereiro de 1989
A Lá Minute
APELO ÀS ORIGENS
O excesso de técnica tem distanciado o homem da prática de usos e costumes ancestrais que o ligavam ao meio ambiente, como um cordão umbilical liga mãe e filho.
São agora as fábricas que produzem as quantidades industriais de tudo quanto sustenta, a sôfrega e insaciável sociedade de consumo para que fomos evoluindo e nos escraviza.
Espartilhado entre a máquina e o relógio, na cadeia de produção e montagem da fábrica, que para ser rentável lhe exige um procedimento quase tão automatico como se peça de engrenagem fora – o Homem – desumaniza-se. Perde-se da relação viva com o meio, perde-se do gozo telúrico de caminhar sobre a terra, perde-se da espontaneidade de expressar, pelo canto, a alegria, perde-se do tempo de meditar, perde-se do jeito do silencio em que se pensa, sonha e cria… perde-se de si próprio, perde-se da sua condição de homem e corre - e corre … e corre atrás do que lhe é imposto pela sociedade de consumo, que o comanda e estrangula. Esquece, ou nem chega a conhecer, valores verdadeiros, e transfere para falsos ídolos os seus anseios.
Faz da compra do sofá, do carro, da máquina, do casaco de peles para a mulher, da motorizada para o filho, do gira-discos e do computador e do mais não sei quê, ou não sei quantos, a meta da sua existência.
Da televisão, que espreita, à noite, nos intervalos do sono do cansaço que o vence, enche-se de anúncios e mitos que lhe impingem miragens enganosas como a maçã lustrosa do conto da Branca de Neve que bastava morder para se ficar envenenado de morte.
Talvez que por tanto excesso comece a aparecer no fundo das consciências, rompendo o torpor, uma procura de autenticidade que possa anunciar uma certa redenção.
Talvez porque a todos é impossível um recomeço, a todo seja possível um repensar da vida. Talvez que um pouco por toda a parte se comece a equacionar o problema das doses justas, do que foi inevitável e do que o não foi; do que foi apenas, e só, desnecessário e nocivo.
Alguma coisa parece indiciar a consciência, nem sempre ainda reflectida, de que viver não é correr atrás do lucro, da fama, da aparência ou valores afins.
Alguma coisa parece indiciar que na procura de, “como era” ou “como foi” – está envolvido o compromisso de deixar às novas gerações as pistas limpas que lhe permitem o dom de escolher caminhos distintos dos nossos.
Quando se procura e compra a colher de pau tosca, talhada à mão com a enxó, mas ainda com “feições” do pinheiro de que descende, e se deixam na prateleira as outras polidas e impecáveis que a máquina fez aos centos, iguaizinhas, alguma coisa me diz que, até nisso, há um certo apelo às origens, em que não faz mal a ninguém meditar com seriedade.
Maria José Rijo
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Para todos os meus queridos sobrinhos...
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Para todos os meus queridos sobrinhos,
leitores e amigos
um sinal de presença para quebrar este
longo intervalo.
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Não desisto
Insisto
Resisto
Vivo!
Vivo - se viver é isto.
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Com um grande abraço
Maria José Rijo
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