Maria José Rijo
Não sou princípio - Nem fim! -Sou um ponto no caminho- Daquela linha partida- Que vinha de Deus para mim!
Apresentação do Livro de Amadeus Lopes Sabino
O escritor elvense Amadeu Lopes Sabino, apresentou hoje,
quinta-feira, dia 6 de dezembro 2018, na
Biblioteca Municipal de Elvas, o seu último Livro.
A apresentação do livro “ O Todo ou o seu Nada”
que contou com a presença da Vereadora Vitória Branco,
familiares de João Falcato,
e foi feita por Maria José Rijo.
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Dr. João Falcato ( 1915 - 2005 )
Chamava-se João José Falcato e nasceu em 17 de Agosto de 1915. Tinha 90 anos.
Era natural de Borba. Mercê de circunstâncias várias seus pais, gente abastada, arruinaram-se.
Fez exame de instrução primária aos 18 anos e partiu para Lisboa onde foi Perfeito num colégio e teve o apoio do professor Agostinho da Silva que seduzido pela sua luminosa inteligência lhe ministrava durante as horas do almoço a preparação necessária para aceder à Faculdade. Embarcou no paquete “Melo” (como oficial?) para ganhar dinheiro.
Nessa viagem o paquete naufragou. Viu morrer muitos dos seus companheiros a arder nas chamas que devastaram o navio. Viu outros serem engolidos por tubarões. Conseguiu, com alguns outros mais, sobreviver dias no mar numa pequena baleeira. Foram salvos por um navio que os desembarcou no Brasil. Aí permaneceu meses num hospital.
Sobre essa dolorosa experiência, escreveu, já em Coimbra, em cuja Universidade se matriculara e se formou em história e filosofia, um romance, que fez imenso sucesso –Fogo no mar – (sobre ele, Matilde Araújo, sua colega de curso, apresentou a sua tese de licenciatura). Sobre o mesmo tema escreveu também “A Baleeira”
Foi fundador e director de revistas e jornais (Brados do Alentejo, revista Volante etc...) e colaborador em muitos outros. Deu precioso apoio ao Linhas de Elvas, na sua fase de lançamento, e, onde intermitentemente foi colaborando ao longo da sua vida.
Escreveu vários livros, num deles “Elucidário do Alentejo? – faz numa belíssima prosa/poesia a apologia da “loira açorda”. Em “Roteiro de Amor”, espraia-se louvando Elvas.
Foi redactor do Diário de Notícias – de onde viria a sair, como muitos outros, pela mão de Saramago – após o 25 de Abril. Foi chefe de gabinete de Veiga Simão enquanto Ministro da Educação. Nessa qualidade, bem como na de Redactor do D.N. viajou pelo mundo, especialmente por Angola. Sobre essas viagens deixou-nos obra valiosa em livros e crónicas - Saudades de Portugal – Angola do Meu Coração - Foi um dos fundadores do jornal “ o Dia” com João Coito seu amigo particular, que em 2001ao falar sobre o Panteão Nacional, assim se lhe referia: - ”Já foi seu conservador durante algum tempo, por amável e justa decisão do Dr. Almeida Santos, o meu velho amigo João Falcato, ilustre escritor e jornalista que a idade e o gosto transformaram no mais afamado e amoroso cultivador dessas perfumadas vinhas de Borba”. Foi contemporâneo e amigo de figuras gradas das nossas letras de quem guardava livros com honrosas dedicatórias. Almeida Santos (que foi seu caloiro de republica, em Coimbra), Mário Soares (a quem apresentou Maria Barroso, com quem se casaria, circunstância que os três relembravam, com humor até em entrevistas), Virgílio Ferreira, Torga, Namora, Alçada Baptista, Eugénio de Andrade etc. de artistas, Bual, Gil Teixeira Lopes e outros. Foi devotado amigo de Sebastião da Gama, de quem falava com lágrimas de saudade e, que, por misericórdia de afecto, amortalhou por suas mãos.
Um nunca acabar de histórias ligadas à história das letras portuguesas que faziam de João Falcato, um brilhante conversador, conhecedor do mundo e das pessoas que esbanjava cultura e saber com um espírito, uma graça e uma vivacidade inigualáveis.
Em Elvas foi director e proprietário do Colégio Elvense – de boa memória – onde leccionava e onde granjeou bons amigos entre os seus antigos alunos.
Foi um dos fundadores da Adega Cooperativa de Borba sua terra de berço onde vivia plantando vinhas e sonhando êxitos para os netos que adorava. Junto de si, quando faleceu, tinha o seu devotado neto Zé.
A sua última publicação foi: “Entre Gatos e Pardais” contos infantis, da Bertrand, em 96.
Na sua Vila morreu, incompreendido por muitos, talvez...mas admirado por todos que o sabiam e entendiam como um “eterno estudante coimbrão” ali desterrado porque preso pelo coração à terra fértil que não o traía, respondendo sempre, ao contrário das pessoas, com
“os frutos da gratidão! . A terra não se vende! . A terra não se fabrica! . Só há a que Deus criou!
Repetia com unção, olhando as suas vinhas, como que unindo céu e terra numa mesma oração de graças.
Maria José Rijo
Jornal Linhas de Elvas . Conversas Soltas .Nº 2.839 – 10 – Novembro - 2005
https://paula-travelho.blogs.sapo.pt/47993.html
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Apresentação do Livro de Amadeus Lopes Sabino
A sala polivalente da Biblioteca Municipal de Elvas
Dra. Elsa Grilo acolhe, a 6 de dezembro, pelas 18 horas,
a apresentação do livro “O Todo ou o Seu Nada"
de Amadeu Lopes Sabino e
editado pela Editorial Bizâncio.
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A apresentação do Livro
será feita por
Maria José Rijo
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1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro «O Todo ou o Seu Nada»?
R- O regresso a uma época que vivi intensamente, o fim da ditadura portuguesa, a transição,
o início do novo regime. Interessam-me muito a ideia, o tempo e as
muitas faces de uma transição de regimes, momento contraditório e
criativo em que as personalidades se forjam e se revelam.
O homem, dizia Nietzshe, é transição e queda.
2-Ao escrever este romance, o que o mais o fascinou em João Falcato?
R- João Falcato (1915-2005), que conheci bem, foi um homem
sempre em trânsito: entre a glória, a queda e a ressurreição.
Genial na banalidade, criativo na insignificância, indiferente
à grandeza e à catástrofe, inteiro na tragédia.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Penso pouco no futuro, o que, tendo em conta a minha idade,
é sinal de alguma prudência. Escrevo tudo e escrevo nada.
O que resultará, eis um enigma. Gosto de enigmas.
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Amadeu Lopes Sabino
O Todo ou o Seu Nada
Bizâncio 15€
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"A Cidade do Homem" - Amadeu Lopes Sabino
CONVERSAS SOLTAS
Jornal Linhas de Elvas
Nº 3092 de 14 Outubro de 2010
A propósito de:
“A Cidade do Homem”
O mais recente livro de Amadeu Lopes Sabino, Escritor (com maiúscula) que sendo português e elvense, duplamente nos orgulha
Como é natural, não tenho a ousadia de me meter por meandros, que pareçam, sequer, querer levar-me a fazer critica deste livro cuja leitura me encantou.
Não devo, até por respeito para com o escritor cuja obra de há muito sigo com particular interesse, extravasar as minhas limitações.
Sendo isso verdade, vou ater-me, já que o prazer desta leitura, não me permite silêncio - a contar um episódio antigo que a sua leitura reavivou no meu espírito e me induziu a um “convívio”de maior encanto com esta narrativa singular.
Em 1943, acabada de sair do Liceu, cheguei a Elvas vinda lá desse Baixo-Alentejo, onde a planície se espraia como a imensidão do mar. Pelo caminho, já a paisagem, em si, por ser também Alentejo, e tão diferente, me prendera a atenção. Depois uma paragem forçada, sob um arco das Portas de Olivença, por onde entrei na cidade fechada nas muralhas, tocou a minha alma num deslumbramento de quem num passe de mágica tivesse voltado a um passado só idealizável em sonhos.
Era como se recuasse no tempo e mergulhasse na história.
Era a porta aberta para o imaginário.
A cidade, com seu cariz medieval, suas ruas estreitas, prédios altos, poucos largos, rica de belas igrejas e “passos”, com suas fontes, sua praça maior no centro, coroada pela Sé, sua luz alilazada ao entardecer tinha no todo como que um casto pudor da sua beleza, uma nobreza austera e discreta de quem se sabe guardiã de segredos que se pressentem e, de que cada pedra, cada “forte,”cada recanto, davam testemunho.
Vão sessenta e sete anos. A cidade mudou.
Mudar era inevitável.
Felizmente para melhor - algumas vezes.
Noutras - não tanto, como tudo nesta vida.
Mas…
“A Cidade do Homem” – está aí.
E, é esse livro que venho agradecer, em meu nome e em nome de muitos outros leitores anónimos, como eu.
A Cidade do Homem traz-nos, partindo de factos e personagens reais, a “tal” magia do imaginário numa recriação documentada, da biografia de António Dinis da Cruz e Silva magistrado e poeta, que nas querelas entre o Bispo D. Lourenço de Lencastre e o Deão da Sé de Elvas, D. José Carlos de Lara, se inspirou para escrever o Hissope, obra literária, que havia de ficar celebre pela sua qualidade no mundo das letras, e, considerada até, como um dos dois ou três melhores poemas herói-cómicos da literatura ocidental. (segundo os seus biógrafos.)
Amadeu Lopes Sabino, bem merece figurar entre os autores que Elvas sempre lembrará com orgulho e gratidão até por trazer à tona valores de Elvas de que os “de casa” às vezes – vezes demais - esquecem.
Maria José Rijo
Este livro vai ser apresentado à imprensa no dia 12 de Outubro, e terá uma segunda apresentação ao público, em geral, no dia 25 de Novembro, na Biblioteca Municipal de Elvas.
Creio que os elvenses não faltarão à chamada.
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Vamos lá ver...
Ora, vamos lá ver se é desta feita que aquieto a minha consciência!
E, convenhamos que está mais do que na hora!
É que havia dantes uns meses que tendo os mesmos trinta, ou trinta e um dias, do que os de agora, conseguiam perfazer uns anos em que eu arranjava tempo para cumprir propósitos a que por gosto, ou por dever, me devotava.
Mas, o que é feito desse tempo elástico, eu não sei.
Sei que continuo a agendar tarefas que gostaria de ter cumprido quando as agendei como desejáveis e prazerosas, e o “tal” tempo se escoou deixando-me a mágoa, quase o remorso, pelo que desejei ter feito e, não consegui realizar.
Vamos lá ver, então, se de hoje não passa.
Tem isto que ver com três escritores. Dois de Elvas, a saber: - Amadeu Lopes Sabino, Maria do céu Barradas, e, um terceiro que não é natural da nossa cidade – António de Almeida Santos.
(A que agora junto mais um nome de outra elvense: - Teresa Direitinho!)
Porque junto os nomes dos primeiros três que cito, é que, é o engraçado da história.
Vou contar:
Maria do Céu Barradas, (escritora- com justiça - bem apreciada) trouxe-me, há anos, de Bruxelas um livro interessantíssimo da autoria de Amadeu Lopes Sabino – de que ele próprio me fazia presente – “A Homenagem A Vénus”.
Não fora a aguçada consciência da minha real dimensão, e, logo após a leitura que dele fiz, de imediato teria ousado escrever contando como e porquê me deliciou a obra citada, o que não cheguei a fazer porque o reconhecimento da dimensão do que nos encanta, por vezes, rouba-nos a ousadia da sua abordagem...
Acontece que hoje ao retomar em mãos o livro, e vendo os sublinhados que marcam profusamente as suas páginas, e me recordam como me encantou a sua leitura não resisti a vir recomendar que não percam a oportunidade de tomar conhecimento com este escritor, através da sua obra.
Ora, esta crónica acontece por outra razão que também vou contar.
Sabendo do meu apreço pela escrita de Lopes Sabino ofereceram-me, posteriormente, de sua autoria: - “A Lua De Bruxelas.”
Algum tempo depois também Maria do Céu Barradas fez chegar ás minhas mãos o seu terceiro romance – “Os Encontros Em Bruxelas”.
Fui sensível à coincidência de a capital da Bélgica estar presente no título de ambos os livros, que sendo de géneros completamente diferentes, cada qual, como é óbvio provoca emoções diferentes na forma de encantamento que proporcionam.
Entre eles não há semelhanças. Apenas Bruxelas, como cenário lhes é comum.
Como e porquê Almeida Santos aparece nesta conversa? – é pela coincidência de que tendo então , eu, adquirido – “Quase Retratos” – livro desse autor, me deparei, logo após a abertura da obra com Almeida Garrett, como o primeiro retratado.
Circunstância que me devolveu ao livro de Sabino (A Lua De Bruxelas) que duma forma apaixonante evoca a vida de Garrett nessa mesma capital. (o livro, não é apenas isso!)
Pensei então juntar os três escritores neste comentário porque senti que era meu dever lembrar aos elvenses, ainda, menos atentos do que eu, que agora, com o Natal à porta, o livro, um livro, é sempre um presente útil e de bom gosto.
Um presente inteligente, que nos pode acompanhar toda uma vida...e, nos pode sobreviver...
Então, agora que a intelectualidade elvense tem a sorte de ter sido enriquecida com a estreia literária de - Teresa Direitinho, com – “O princípio da atracção”
–obra que se lê de um só fôlego, quer pelo interesse que o entrecho suscita, quer pela sua qualidade literária, quer, ainda, pela fluidez e beleza da narrativa, e que, além do mais, como as obras de Céu Barradas, e algumas de Amadeu Sabino, também refere, com frequência locais que nos são familiares – quase me parece pecado que alguém os não conheça...
Penso que nunca mais irei a Juromenha, sem levar no meu coração a lembrança do livro de Teresa...
Quando de “tanto” nos lamentamos, vale a pena conhecer aqueles de quem nos podemos e devemos orgulhar.
Maria José Rijo
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Jornal Linhas de Elvas
Nº 2.735 – 14/ 11 /03
Conversas Soltas